Desde o inicio da humanidade o ser humano enfeita-se para a realização de
diferentes rituais, utilizando elementos da natureza ou materiais
confeccionados a partir dela. E com o passar do tempo os trajes foram
mudando ao longo do tempo e a arte também.
Figurino é a roupa usada por um personagem de uma produção artística
(teatro, cinema, programa de TV ou vídeo) e o figurinista é o profissional que
idealiza ou cria o figurino. É necessário que o figurinista conheça a fundo a
história a ser tratada no trabalho, pois o figurino tem que revelar muito dos
personagens. Com isso temos que entender que figurino não é somente um
simples elemento; porque sua concepção baseia-se em vestir e compor o
personagem conforme foi definido pelo texto do autor, pela leitura
dramatúrgica.
Figurino como narrativa não verbal.
Existe uma busca por elementos que consigam transmitir os significados da
personalidade de cada pessoa, produtos e artefatos que passam a ser
compreendidos como símbolos e que servem para o usuário como forma de
constituir significados que causem reações a quem observa. De acordo com
Garcia e Miranda (2010) isso faz com que o vestuário se torne uma forma de
se assemelhar ou distinguir, inserir ou excluir os outros diante da identificação
dos significados transmitidos. O vestuário deixa de ser funcional, não serve
apenas para cobrir e proteger, ganha status de meio de comunicação - uma
linguagem que não é falada.
Essas ações resultam no gerenciamento e manipulação de imagem do
personagem que quando bem administradas permitem usar os significados das
roupas para benefício da compreensão e interligação ente personagens e
enredo, conseguindo ajudar o ator a se transformar em outra pessoa, o
personagem da narrativa. Daí a importância do figurinista, pois cabe a ele fazer
do figurino um dos elementos indispensáveis que ira ser ponto de comunicação
e passível de interpretação diante o observador, o figurino contendo códigos e
significados transmitindo mensagens e emoções ao espectador tornam-se um
meio de comunicação ente narrativa, ator e espectador.
De acordo com Scholl, Del-Vechio e Wendt (2009) os signos comunicam os
significados e ajudam a identificar o psicológico dos personagens, segundo os
autores: A roupa não é capaz de transmitir somente o conteúdo manifesto, mas
sim aspectos latentes da personalidade da pessoa, inferidos de acordo com
sua apresentação. Estes signos é que são responsáveis pelo adequado
delineamento do perfil psicológico da personagem – se esta é arrogante,
simplória, narcisista, agressiva, etc.
Os figurinos trazem um sentido mais claro e uma função na caracterização de
diferentes tipos de personagens. Integram e diferenciam, excluem ou acentuam
comportamentos, conceitos e ideologias (ABRANTES, 2001). Mesmo com
significados e símbolos o figurino não faz o personagem sozinho é necessário
algo mais, o ator, que usa seu corpo para vesti-lo, é necessário que ele entre
em cena para expor essas mensagens. É uma relação de interdependência
entre figurino, ator e narrativa.
A caracterização faz com que o ator dê vida ao personagem diante da
interpretação da cena, ou seja, a roupa torna-se um tipo de suporte técnico que
consegue situar a história e mostrar sentimentos, gostos, estilos por meio das
cores, formas e também texturas usadas na configuração do figurino; que dá
respaldo à história narrando-a como elemento comunicador;
[...] marcando época dos eventos, o status, a profissão, a idade da personagem, sua
personalidade, sua visão de mundo, ostentando características humanas essenciais e
visando à comunicação com o público (BUSTAMANTE, 2008, p. 69).
O figurino de um personagem pode mudar de configuração e linguagem dentro
de uma mesma história, esse artifício é usado como forma de transmitir
mudanças psicológicas, de narrativa e de significação do personagem. Essa
mudança do figurino para seguir a evolução dos personagens na trama é uma
condensação do que se parece um paradoxo, algo que parece impossível que
é “transformar sem perder a unidade” (ARRUDA; BALTAR, 2007, p.22).
Costa (2002, p.39) diz que o figurino pode ser: No modo sincrônico, figurino
molda o ponto histórico em que a narrativa se insere. Um figurino realista
resgata com exatidão e cuidado as vestimentas da época cuja obra visa
retratar; um figurino para-realista, enquanto insere o filme em determinado
contexto histórico, procede a uma utilização que prevalece sobre a precisão,
criando uma atmosfera menos real e mais manipulável, atemporal.
Ele nos apresenta uma diversidade de linguagens cada qual com seu vocabulário e
sua gramática. É um conjunto de sinais, em que uma peça de vestuário muitas vezes
ocupa papel decisivo (ARRUDA; BALTAR, 2007, p.14).
Com essas afirmações fica claro que o figurino faz parte da simbologia
ajudando na construção da cena, da narrativa e da estética da cena. Estética
essa que faz parte essencial do projeto final é o que muitas vezes se torna a
principal característica de identificação da obra e de produtos que sejam
relacionados a ela.
Rafaela Federici
Arte Educadora/ Atriz.
Referências
Roteiro do Museu do Teatro, 2008.
ARRUDA, Lilian; BALTAR, Mariana. Entre tramas, rendas e fuxicos: o figurino na
teledramaturgia da TV Globo. São Paulo: Globo, 2007
SCHOLL, Raphael Castanheira; DEL-VECHIO, Roberta; WENDT, Guilherme Welter.
Figurino e Moda: Intersecções entre criação e comunicação. Intercon – Sociedade
Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação. X Congresso de Ciências da
Comunicação na Região Sul. Blumenau. 2009.
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