O teatro é uma arte que se associa à história do homem e à própria história da comunicação humana, mesmo com a tecnologia, o teatro tem de maneira única o aprendizado, seja de ordem informativa ou cultural, de modo a evitar que essa atividade se transforme, equivocadamente, em um instrumento de opressão e de inibição.
Uma vez que, segundo afirma NAZARETH (2009): A arte é libertária e o teatro é, sem dúvida, das Artes, expressão libertária por excelência. A possibilidade de “re-viver” sentimentos e situações sem barreiras de tempo e espaço, de presenciar fatos de verdade ocorridos ou apenas existentes no imaginário do autor, possibilita resgate do indivíduo e da sociedade.
No teatro, qualquer personagem precisa trabalhar a expressão corporal, ou seja, é a capacidade de expressar emoções com o corpo. ... Qualquer movimento de interpretação usa a expressão corporal. Por isso ao longo da vida, nós aprendemos a identificar e interpretar cada uma destas expressões, além dos sentimentos, a linguagem corporal também está ligada ao nosso modo de gesticular.
Por essa razão a expressão corporal se faz tão importante no teatro; para que o ator em cena não aparente ser um robô.
E como podemos trabalhar as expressões corporais?
Com diversos exercícios cênicos; podendo partir de uma simples caminhada do grupo pelo espaço, até atividades com propostas de criar estátuas com o corpo, imagens que saiam da zona de conforto do ator. Com isso, podemos investigar quais são os padrões e ritmos corporais dos participantes. Sair do confortável. Procurar estabelecer uma sintonia um com o outro na percepção da velocidade, do espaço e de saber interagir ao que era proposto pelo outro. No entanto, a prática destes exercícios não deve ser
vista como uma simples tarefa, e sim como um desafio estimulante.
Através também da respiração, ao sentir o corpo todo respirar, posturas e atitudes são assentadas e preenchidas e o enrijecimento físico pode ser desfeito. Conectada as nossas emoções e propulsora de efeitos internos pelo pressionamento dos órgãos, ela pode acalmar ou acelerar nossos batimentos cardíacos e alterar nossas sensações a depender da velocidade com que a empregamos. Com ela, pontuamos o pensamento em uma fala e, como ato de comunhão que é, podemos conduzir, até mesmo, a respiração da plateia. (apud Santos, 2009, p. 72-73).
No que diz respeito à linguagem corporal no teatro, a sua finalidade é fundamental e enriquecedora. Por meio da linguagem corporal, é possível dizer tudo somente com os movimentos do corpo. A emoção, segundo Burnier, poderia ser definida como in-motion, ou ainda em movimento. (...) “sentir as emoções na musculatura”, é o mesmo que dizer ao ator para tentar não buscar formas preestabelecidas de mostrar ou representar esta ou aquela emoção, mas para descobrir uma maneira de fazer com que seu corpo psicofísico esteja apto e despojado de todos os bloqueios, e assim, deixar fluir essas in-motions através de sua musculatura. (apud Ferracini, 2003, p. 118)
Dito isso o principal benefício em dominar a linguagem corporal está na coerência com a comunicação verbal, alinhando aquilo que é dito com a sua postura.
A comunicação: Linguagem corporal é essencial somente para a arte?
Isso não é válido apenas para aqueles que estão em cena. Se comunicar através da linguagem corporal é importante para qualquer área profissional e claro, situações do cotidiano, afinal, o nosso corpo fala muito mais do que nossas próprias palavras. Pessoas que têm dificuldade para se expressar com o corpo, pode acabar comprometendo a sua vida (ambiente social de modo geral).
O teatro é uma forma de tornar o aprendizado mais simples, com pequenas medidas, que irão aprimorar as habilidades de comunicação-verbal e coordenação; de modo que o indivíduo passe a ter a consciência permanente de seus gestos e ações.
Para complementar esse pensamento, de acordo com Tadashi Suzuki:
A respiração é um elemento importante. A cada mudança de postura que fazemos com o nosso corpo alteramos a nossa respiração e, por conseguinte, as nossas emoções. A importância que ele enfatiza ao respirar é que temos que criar uma grande quantidade de tensão e energia que possa circular pelo nosso corpo e ao mesmo tempo, ser capaz de utilizá-la de forma adequada.
(Suzuki, 2010)
Concluo assim que a linguagem corporal traz diversos ensinamentos e experiências podendo se complementar, com o desafio de levar a novos processos físicos, psíquicos, cognitivos e assim adquirir novas consciências sobre quem nós somos e o que podemos aprender com as outras pessoas que também são importantes ao nosso processo de aprendizagem e que será levado para toda vida.
Rafaela Federici
Arte Educadora/ Atriz
Referência:
BRANISSO, Nádia Pereira. Monografia – Departamento de Artes Cênicas da Universidade de Brasília – Brasília 2015.
FERRACINI, Renato. A Arte de Não Interpretar Como Poesia Corpórea do Ator. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2003.
CASTILHO, Patrícia Lima. Artigo “Tadashi Suzuki: Uma Proposta Para o Teatro na Pós- Modernidade”. VI Congresso de
Pesquisa e Pós Graduação em Artes Cênicas 2010. Programa de Pós-Graduação em Artes – IA/UNESP.
NEVES, Neide. Klauss Vianna: Estudos para uma Dramaturgia Corporal. São Paulo: Cortez, 2008.
OIDA, Yoshi. O Ator Invisível. Tradução de Marcelo Gomes. São Paulo: Via Lettera, 2007.
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