A maquiagem é parte da composição do espetáculo, é um instrumento
fundamental que auxilia na criação do personagem e na transformação estética
dos atores.
Vamos voltar um pouco no tempo para saber da onde surgiu.
Há indícios de que nos ritos religiosos ancestrais na Grécia nos cortejos em
louvor ao deus pagão Dioniso, os participantes usavam a borra do vinho no
rosto ou passavam farinha ou argila branca, como um ato simbólico de
semelhança ao deus, esses homens pintavam o rosto, mas não havia uma
consciência de que era uma maquiagem ou o fazer teatral, e, sim, de entrar em
contato com as divindades. Desta forma criava pinturas diversas no rosto, com
materiais extraídos da natureza, para conceber uma caracterização do que
acreditavam ser essas divindades, e assim, tornando possível através destas
manifestações, um reconhecimento e uma identificação entre divindades e
seres humanos, viabilizando assim, um contato com os deuses.
Passado um tempo essa “maquiagem” desaparece com a construção dos
grandes teatros, surgindo a partir de uma nova forma de comunicação entre o
palco e a plateia; a máscara que permite essa nova interação.
A máscara é um acessório utilizado no teatro até hoje, têm uma função
primordial: a de chamar a atenção e aproximar o público, da ação teatral que
está sendo apresentada. As máscaras expressivas são estilizadas e
carregadas nos traços, formas, cores e texturas, para chamar a atenção do
público, sintetizando ao máximo as informações contidas sobre o caráter dos
personagens.
A máscara no teatro grego – Nos primórdios do teatro ocidental, quando este
surgiu no século VI a.C. como forma espetacular, a máscara era um elemento fundamental na encenação, com a função de ampliação sonora e visual,
potencializando o trabalho do ator em cena através das suas expressões, e
com o propósito de fixar tipos que facilitavam identificação dos personagens
pelo público. Desde o teatro grego antigo a máscara já podia ser encarada
como algo que ia além de um mero adereço Jean Jacques Roubine afirma:
A máscara acentua e esquematiza os traços do rosto. Na dramaturgia grega ela assumia, ao que parece, uma tripla função: amplificação visual, permitindo ao espectador mais distante uma apreensão satisfatória do personagem; ampliação sonora na medida em que ela podia servir de auto falante; ampliação estética.
Tudo começou assim, agora a maquiagem artística é muito além de rápidas
pinceladas para cobrir imperfeições da pele, ela se destaca como um dos
importantes elementos de criação da linguagem cênica e requer reflexão
estética, pesquisa e elaboração. O trabalho com maquiagem auxilia atores,
dançarinos, artistas circenses entre tantas outras formas de arte a exprimirem
emoções e o caráter simbólico de seus personagens. Variando entre criações
realistas ou poéticas, a maquiagem cênica pode ajudar a transmitir mensagens
na cena, quando colocada de maneira forte e pertinente com o espetáculo.
A atriz Cyntia Carla explica que a maquiagem está diretamente ligada ao corpo,
à pele do ator e pode potencializar sua expressividade além de aproximá-lo das
características físicas e simbólicas da personagem. Quando o ator entende e
tem domínio do que a maquiagem representa para uma proposta cênica, pode
dominar suas características e acentua-las em cena. As maiores variações são
conforme a distância do público, necessidade de aproximação com o real ou
destaque de estruturas simbólicas propostas pela encenação. Reforçando as
características dos personagens, caracteriza e descaracteriza indivíduos e
possibilita a criação de seres diferentes, além de valorizar a interpretação
através dos traços expressivos.
Para o artista no palco a maquiagem é tão importante quanto a cenografia, o figurino, a luz, a expressão corporal, o texto ou a emoção articulada por um ator no momento do espetáculo. Todos estes elementos se unem para compor uma atmosfera de textos visíveis e invisíveis para o espectador.
“Estamos rodeados por imagens o tempo inteiro em todos os lugares e nossa leitura do
mundo é atravessada radicalmente pelas sensações produzidas pelo que
vemos. Na cena, o mesmo acontece. A maquiagem pode caracterizar um
personagem antes mesmo que o ator fale uma palavra ou execute qualquer
movimento”.
Rafaela Federici
Educadora/ Atriz
Referencia
SOUZA. Jesus F. Vivas. A maquiagem na construção da personagem. Salvador, BA, PPGAC-
UFBA, 2004.
https://ociclorama.com/maquiagem-cenica-e-a-criacao-teatral/ Acessado: dia 15/07/2020 as
16:48
STRENKOVSKY, Serge. The art of make-up. New York: E.P. Dutton & Company, 1937.
PETRI, José. Degrade de Luz e sombra. São Paulo, SP, 2011. Fonte:
http://www.josepetri.com.br/ Acesso em 15/07/2020
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